E é assim que a alegria constrói,
dentro de minha boca,
o seu cristal difícil.
Ferreira Gullar
Eu cautelosa, com pés de bronze,
provo uma floresta granítea
- cristalização de meus mitos.
E porque não me tenho,
estando assim dividida,
solidão, então me invento
no limpo quartzo do dia.
E caminho na manhã
- maresia da aurora -
espiando um mar de vidro
e devorando o seu mito.
Onda então me submerge
e conta todos meus ossos.
Solidão, então que faço
assim tão impressentida?
Percorro todos os caminhos
e os venenos antigos
e agora com armas prontas,
digo a mim mesma: tranquila.
Solidão, aqui é meu reino,
aqui levantei meus muros,
aqui plantei minhas telhas,
aqui demarquei meu chão.
Solidão, então me invento?
Tramo sólidos fantasmas
povoando meu musgo
e invento minha alegria.
- alegria que tão busca
e tão sofrida, enfim
sitiada em alegria,
solidão, então me invento.
Rio de Janeiro, março 1970
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