segunda-feira, 12 de março de 2012

Hermes Fontes

Folha rubra

Meu ser é a comunhão de dois seres diversos.
Dois seres - um, a carne, outro, o espírito... e, assim,
esses dois seres - dois pequenos universos -
para castigo meu, se unificam em mim.

Carne e espírito... Enquanto o espírito faz versos
e sonha, a carne, onde arde o sangue de Caim,
forceja, ousa remir os instintos, imersos
neste letargo, nesta escravidão sem fim.

É o espírito contra a carne... A ânsia, a nevrose!...
E eu morrendo a esperar que a alma se desencarne
e se volatilize a essência em novo ser!...

E o corpo, livre da alma, estremeça, ame, goze
a carne pela carne e para a carne... a carne
até se decompor e desaparecer!...


O poeta suicidado

Versos em música