segunda-feira, 26 de maio de 2014

Dora Ferreira da Silva

Ritornello


Sempre sangrarão as cicatrizes?
                              O sono - irmão caçula da morte -
parece um corte vibrado a esmo.
Mendicância-errância se abraçam silenciosamente.

O mito que retorna
encontra-me quase insensível
                         à dor do recomeço.
Tropeço no antigo móvel
e não o reconheço. Foi o destino
que me levou a uma outra casa?
A poltrona insegura desvia a torrente do tempo
quando alguém sentado lia
farrapos da própria alma em autores prediletos.

Tudo o que foi passado
custa a morrer nos meus guardados.


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domingo, 18 de maio de 2014

Eugénio de Castro


Un autre, plus heureux, va unir son 
sort celui de mon amie. Mais quoiqu'elle
 trompe ainsi mes plus chères espérances, 
dois-je moins aimer?
Mackensie

Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei-de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp'rança,
Amar sem espr'ança é o verdadeiro amor.


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