segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ricardo Reis

Mestre, são plácidas 
Todas as horas 

Que nós perdemos, 

Se no perdê-las, 

Qual numa jarra, 

Nós pomos flores. 


Não há tristezas
Nem alegrias 

Na nossa vida. 

Assim saibamos, 

Sábios incautos, 

Não a viver, 


Mas decorrê-la,
Tranqüilos, plácidos, 

Lendo as crianças 

Por nossas mestras, 

E os olhos cheios 

De Natureza ... 


À beira-rio,
À beira-estrada, 

Conforme calha, 

Sempre no mesmo 

Leve descanso 

De estar vivendo. 


O tempo passa,
Não nos diz nada. 

Envelhecemos. 

Saibamos, quase 

Maliciosos, 

Sentir-nos ir. 


Não vale a pena
Fazer um gesto. 

Não se resiste 

Ao deus atroz 

Que os próprios filhos 

Devora sempre.

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos 

Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranqüilos,tendo
Nem o remorso
De ter vivido.


Ouvindo

Biblioteca                                                     

 

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