A Anne Waltzdorf
Era negro o menino
morto sobre o negrume do asfalto.
Seu ombro sangrava
colorindo o brim desfeito pelos metais,
um ombro magro, uma coisa indefesa,
uma coisa mínima, e era toda a melancolia da terra:
os castigos, fardos, humilhaçãoes, a fome.
Era um pequeno ser
ali presente ao fim do mundo.
E nada havia a dizer,
a frase se guardava presa nos músculos da garganta,
próxima, urgente, desconhecida...
Só aquele menino soube gritá-la
entre a borracha e as ferragens,
e talvez nem tenha sido um grito, nem mesmo um som,
e em vão a sofrida imagem de seu corpo
tentava murmurá-la em nossos olhos baços,
sem fúria, sem lágrimas, triste como um remorso.
O pintor poeta
No blog do Noblat
Bio
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